treinamento escalonado

“Como uma cansativa aula de violão, quando o professor insiste em não te dar uma música de imediato para aprender, qualquer aprendizado terá que passar pelo dedilhar da escala para se chegar à perfeição.”

Exatamente assim, quando entramos em qualquer processo de aprendizado, seja para sua adequação ou melhoramento, dificilmente teremos paciência para aprender repetindo centenas, milhares de vezes a mesma coisa, devagar e sempre, até podermos seguir numa velocidade menos tediosa e sair tocando resultados significativos e admiráveis.

Hoje, uma das maiores lacunas no segmento de T&D é demonstrar, com efetividade, a eficácia de um treinamento à longo prazo, seja no âmbito mental, braçal, operacional ou nas funções automatizadas. Existem fatores específicos e gerais que hora podem ser agrupados e simplificados, hora terão que ser forçosamente individualizados até o ponto extremo de isolamento e absorção, mas que na realidade acabam sendo conduzidos ao “ato empreendedor”, o treinamento zás trás,  aquele que se coloca à frente das escalas, em busca de uma música mais rápida em detrimento à sua eficácia.

Treinamentos, são hoje, na maioria da vezes, serviços terceirizados e, por isso, modelados, em tamanho único, padronizados para caberem na maior gama possível de corpos empresariais. Folgo a dizer que como qualquer empresa inescrupulosa, a maioria desses fornecedores de serviços de treinamento vendem o seu produto sem saber ao certo se é adequado. A empresa, em busca de soluções sempre imediatas, para corrigir erros e acabar com reclamações, além da baixa produtividade, autoriza, exausta, a compra do serviço, “Está bem, chamem o professor de música e que eu ouça algo audível”, dirá ele em desespero, “… e, pelo amor de Deus, logo! tempo é dinheiro e já perdemos muito dos dois! Avante! Façam!!!” Fizeram. Na relação matemática do que se investiu em tempo e dinheiro para o desejado resultado imediato, entretanto, quase sempre o que se vê é uma momentânea catarse, um sopro apenas nos ouvidos, nunca uma obra inédita, uma melodia audível. Durará o tempo de um ensaio. Os treinamentos entram em saem nas empresas parecendo pausas para o evento no pátio da escola, uma formalidade recreativa.

Os treinamentos apresentam hoje alguns formatos distintos:

Umas das modalidades  mais comuns, indicados pelos psicólogos do RH, são os motivacionais que funcionam, assim como aquele livro de autoestima que fica na cabeceira ao lado dos calmantes e dos antidepressivos. Um freio nos instintos maléficos que enegrecem a visão e a mente do ser que está lidando com toda a sorte de problemas. Serve para todos os setores da empresa. Neste treinamento, busca-se libertar a tensão, desbloquear a timidez e trazer energia positiva, espírito de equipe… motivação. Levantam-se os braços, movimenta-se a cabeça, desenham-se bonecos, grita-se bem alto e se desenvolve, através de jogos e brincadeiras, a sensação de integridade, de “sermos todos um!” . Fim do expediente, pós treinamento, as pessoas ainda falam pelos corredores, dão risadas, contagiadas pelo alvoroço e a experiência, voltam para casa mais felizes, descontraídas!

No dia seguinte…

O CEO anda às voltas à procura de seu assistente: “-Onde está o Álvaro? alguém viu? não chegou ainda?? Mas temos reunião agora” – Vai à mesa da telefonista para pedir que ela ligue para o Álvaro. Esta, entretida com seu celular, meio atrapalhada, interrompe a conversa e diz, “- Sim senhor, eu vou ligar já!”. Vinte minutos depois ele volta: “-E então? e o Álvaro? está vindo?”. -“Sabe que não consegui falar com ele? Só dá caixa postal! Mas vou continuar tentando”. Em sua mesa, o visor do celular ainda iluminado e ela volta à conversa que não havia sido sequer desligada e fala baixinho: “- Amor, vou ter que desligar, meu chefe está no meu pé!”

Álvaro aparece com uma hora de atraso, passa pela porta de entrada com o celular na orelha e responde à telefonista que está do outro lado da linha: “– Oi! sim, sou eu. Estou entrando na empresa!”  atendendo a chamada com a melhor resposta que poderia dar, enquanto ela, aliviada pela missão cumprida, pode finalmente começar a pensar na roupa que irá sair naquela noite com seu namorado.

O treinamento motiva, mas sua ação é instantânea, assim como sua falta de permanência. O pó de pirimpimpim dissolve em uma breve mexida. Os treinamentos motivacionais tem efeito de uma droga, não é eficaz. Talvez, quem sabe, em casos pontuais de conflitos em um dia violento, pode até servir como um frescor para acalmar os ânimos e fazerem os funcionários voltarem para casa sossegados sem destruir a empresa. Mas como algo transformador, a eficácia é nenhuma.

Partindo para o outro lado, o oposto, a modalidade de treinamento técnico é bem menos colorido, aliás, é o preto no branco. Ensina o que tem que ensinar, faz o que tem que ser feito, limitando-se à tarefa. Eficaz para aprendizados operacionais de manuseio de máquinas ou para o uso de programas específicos. Com relação ao desempenho, comportamento, postura diante das tarefas… aí ” – Não é conosco. O como vão fazer e com que consciência…  isso aí… é muito subjetivo!”

Existe ainda o treinamento empresarial, uma consulta, dada por “consultores” de uma consultoria. Funciona exatamente como o próprio nome diz, como qualquer consulta em que um especialista, neste caso, em gestão empresarial, analisa pontos, sintomas, até chegar a um diagnóstico, medem ações, indicam tratamentos e antídotos para combater o mal. “-Sim, o que o senhor tem?” “- Não sei Dr, sinto-me mal, cada hora dói uma coisa, às vezes acho que vou morrer… Estou tomando isso, aquilo e aquilo outro, mas nada adianta” “- Vou pedir uns exames, mas já vou lhe receitar alguns medicamentos para aliviar os sintomas”. Não desmerecendo o trabalho dos bons profissionais, sejam eles consultores ou médicos, principalmente os que realmente desejam pesquisar à fundo e encontrar a raiz do problema, seja no corpo humano ou corporativo, há que se entender que estamos diante de uma complexa atuação de células, pessoas, benignas e malignas, que se multiplicam à cada segundo e, além delas há um cérebro, um líder, que muitas vezes camufla. Um simples exame clínico e algumas consultas esporádicas não tem grandes chances de solucionar o que está oculto.  Fica assim, muito difícil diagnosticar o problema real, se não se tem um completo acesso às informações internas. Mesmo se Elton Mayo ressuscitasse e fizesse um modelo análogo à sua pesquisa que foi semente de uma teoria tão bem sucedida na época, hoje, teria que lidar com uma perspectiva nova e elementos recheados de argumentos diversos à ponto de possivelmente ter que se transferir de malas e cuias e em definitivo para o local. Porque hoje vivemos em um ambiente bem mais conectado com o mundo externo, mais suscetível às exposições e, por isso, mutável, multifacetado, volúvel.

Particularmente, penso que a efetividade de um treinamento só se atinge se o exercício for incessante, se o domínio da nota, individual e singular se fizer sentir do início ao fim em todas as suas mais sutis partes e ao mesmo tempo, após estarem firmes, regê-las, ligando-as às outras notas, criando sua escala, buscando aos poucos sua própria harmonia, evoluindo até atingir o arranjo mais perfeito e produzir sua obra, sinfonia. Processo de criação ímpar.

Não há sonhos, nem milagres. Árduo trabalho, constante busca pela perfeição. A eficiência é uma meta que só se atinge com dedicação plena, concentração, aproximação e análise contínua, com direito a ensaios e tudo que requer… tempo

o resto é utopia!

8 comentários em “treinamento escalonado”

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