Confesso que tenho andado meio distanciada das inovações, ferramentas, métodos e recursos tecnológicos na área de RH nos últimos quatro anos. Minha única graduação nesta especialização foi um pouco tardia. Não foi desleixo. Foram motivos bastante sólidos, ou seja, impossibilidades concretas, tanto geográficas, quanto financeiras e circunstanciais. Além disso, concluí o curso já a uma idade avançada para o mercado e mesmo gozando de uma saudável aparência, tive muitas dificuldades para conseguir uma vaga num ambiente corporativo onde 99,9% das equipes são compostas de jovens. Se você não tiver algo extraordinário de encontrar no mercado de trabalho, a disputa é impossível de travar. Exatamente por isso, por um motivo como esse, apesar do “algo” não ser extraordinário, mas incomum, consegui em um tempo razoável uma oportunidade. Mas a idade é sim, uma grande barreira! Minha graduação foi aquela que estava ao meu alcance, a mais barata, a mais rápida e atrelada à minha experiência somando tempo para a formalizar e correr atrás. Direto ao foco, boa visão custo e benefício versus realidade, enxertando alguns cursos gratuitos e online, reconheci porém que a banda não toca bem assim. Para um currículo, mesmo após vencer a barreira da idade, todo esse esforço é considerado um tapa buraco e quanto à sua experiência, não há provas. A experiência é algo que serve para nós mesmos apenas. É particular.
Mas com as poucas oportunidades que tive, após uma análise geral, concluí que efetivamente do Departamento Pessoal à área de RH (fundamental por sinal para humanizar a relação no trabalho) ainda estamos muito distantes de um RH estratégico, que seria o ápice da carreira. Faltou confiança e mais aprendizado relevante para que a área se desenvolvesse e alcançasse a liberdade de criação estratégica. Que tipo de formação é dada aos psicólogos, administradores, contabilistas e tecnólogos que disputam de igual para igual essas vagas? Quais são e que tipo de profissionais são escolhidos para ocuparem as principais posições na área? Como é feito e qual o propósito para a seleção desses profissionais? Mediante quais orientações eles desempenham suas tarefas? E por fim, o que significa RH para a empresa que procura avanços em seu potencial humano, mas que banaliza a sua gestão formatando-a, massificando seus integrantes num padrão físico, social, comportamental e sem nenhuma perspectiva de inovação?

A barreira é de tal forma rígida que, caso surja alguém com potencial inovador em uma dessas profissões, não só dependente de aprendizado, muito provavelmente é na porta de entrada que encontrará dificuldades. Mesmo que tenha nas veias algo diferenciado, com inspiração e certa liberdade de criação pelas experiências em habilidades tais como análise crítica, organização, visão estratégica e empreendedora é muito fácil que seja dispensado já na primeira entrevista, ou não ficará por muito tempo se não tiver o perfil da casa. Nesse sistema engessado, será considerado estranho alguém que traga uma visão diferenciada e que possa colocar mexer com a estrutura existente. Leva-se em conta ainda que ele terá que passar por alguém que já está na mesma área que ele irá se desempenhar.
Há outra barreira, já bem conhecida, que diz respeito à classe social, que limita a seleção principalmente para cargos mais elevados. Está fora de questão, pessoas que vem de uma classe mais baixa ultrapassar esse preconceito mesmo que tenha uma mente brilhante e provavelmente um currículo menos empolgante. O sistema é quadrado, a mente corporativa em geral é obtusa e a vida da empresa se congela a partir daí. Não há chance de haver estratégias, dinamismo, originalidade em um mundo que dispensa pessoas apenas pela aparência, pelo padrão social, raça, idade ou qualquer outra forma de preconceito injustificável.

Mas como devemos evitar o pessimismo e a negatividade em qualquer armadilha da vida e achar que nada muda, há sempre alguns exemplos de inovações no processo seletivo. Encontrei alguns artigos interessantes sobre práticas de RH nesse segmento que ajudam a encontrar meios de captar talentos. mecanismos de games na divulgação de marcas, já que existe uma tendência natural de recomendação e interação do público com empresas com as quais tem afinidade.
Mas são peças soltas, pinceladas desenvolvidas aqui e ali como experiências de dinâmicas, mas que não resolve o embarreiramento por preconceitos, que são limitantes, pois normalmente nessa fase já houveram algumas triagens . Atinge muito pouco como solução do problema de estagnação, de engessamento do sistema e processo seletivo.

Temos que distinguir, de uma vez por todas, a capacidade técnica e comportamental da capacidade intelectual, emocional e mental formadora de uma personalidade específica e imprescindível para a ocupação de cargos estratégicos, principalmente de lideranças estratégicas que, na maioria dos casos, são personalidades criativas, não massificáveis e que, mesmo que a empresa tenha que investir num processo seletivo mais específico com testes, games, e outras possibilidades, deve também reformular as questões de embarreiramento vindos das pessoas que fazem as entrevistas, só assim poderá efetivamente trazer inovações substanciais e realistas, personalizadas, capazes de transformar a empresa em um modelo original e, por isso, fazer com que ela ganhe distinção e competitividade. Temos milhares, milhões de pessoas perdidas em um sistema falido, milhões de talentos desperdiçados à espera que alguém os detecte enquanto, do outro lado, são muitas as empresas que procuram ardentemente despontar no mercado, ganhar fidelização dos clientes e parceria com os empregados através de uma inovação na estruturação interna do gerenciamento de pessoas e não consegue achar por causa desse fator.
Enfim, enquanto se troca o “seis por meia dúzia” e não se vence o bloqueio real, a insistente mentalidade de que as pessoas devem pertencer a um bloco social, comportamental e até mesmo físico, nunca se chegará a um resultado significativo. A ousadia é uma aliada da inteligência. Nenhum gênio, seja ele empresarial ou científico saiu de uma fórmula pronta, mastigada, são seres livres e espontâneos que se julgados apenas pela aparência ou currículo podem sucumbir ao rigor de uma simples entrevista de emprego.

É para se pensar…