Transparente Liderança

O líder é antes e acima de tudo um missionário e está muito longe de ser um autocrata. Uma afirmação que contraria a imagem do personagem que protagoniza histórias e lendas marcadas em nossas mentes… pelo menos, até aqui!

Visualizar um líder é ainda imaginá-lo no topo de algo, à frente de tudo e de todos, lançando-se em cena como um destemido guerreiro que carrega de um lado a sua arma, na luta por um ideal e, do outro, o símbolo do coletivo, soberana vontade! Por trás e abaixo estão seus  seguidores que caminham neste cenário, cegos e crédulos de estarem indo na direção certa. Na verdade,  o que eles pensam ou sentem nunca soubemos, pois os olhos de todos os espectadores voltam-se apenas para o protagonista cujo início e fim desse filme dura apenas o tempo de sua vida.

Escolhido, nomeado ou alcunhado, o líder surge e dá o rumo da história que nem sempre é para a vitória. Em suas mãos a árdua tarefa de planejar e comandar e ponto final.

Afinal, será essa ainda, após tantos filmes e histórias a imagem e semelhança de um líder? Será que deixamos de nomear chefia para transformá-lo em gestor procurando encontrar ainda uma liderança cinematográfica, planejadora e responsável pela luta e atingimento das metas e representando os anseios da organização? Um herói ou um mártir, mas um líder protagonista?  -“Ele por todos e todos por um!”…. Seguramente, não podemos mais contar com isso. Não devemos esperar por isso! Esse filme já passou!

Se foi com essa intenção a decisão de aproximar a  gestão moderna da base de produção, trazendo um contato físico maior (que também acontecia nos campos de batalha dos filmes) e retirar a antiga “chefia” de sua mesa no andar de cima cujo gabinete envidraçado tudo via e nada dizia, não determina que possa ocorrer a incontestável liderança desejada. Ou  seja, só isso não funciona. Dependendo de alguns elementos o líder/gestor poderá se encontrar em cenas cinematográficas, mas diversas, em outros filmes: 1. Um homem jogado numa jaula e imediatamente engolido pelas feras; 2. Um déspota odiado por todos que fingem, até poderem abandoná-lo, “engoli-lo”; 3. Alguém que não faz diferença (é só mais um a andar pelos corredores); 4. Alguém que faz diferença como profissional, que pode ou não chegar à ser … 5. O líder contemporâneo.

De uma forma ou de outra a mudança de cenário e da historia que nos atrai hoje é outra. O incontestável não existe mais.  Protagonizar não é possível, pelo menos não à tempo integral.

Infelizmente, entretanto, existem ainda os saudosistas e o seu desejo de uma liderança autoritária, mesmo que velada, responsável por tudo, incontestavelmente.  Por mais que existam “floreados” a respeito, Henry Taylor, para grande maioria, ainda é um marco da gestão com sua liderança autoritária. Pessoas ainda falam na necessidade dessa liderança e da falta que faz um ser que se responsabilize a pensar por todos para que estes não precisem pensar. Que monte o manual de procedimentos e que apenas faça com que seja cumprido. Compreensível estratégia pois se torna muito mais fácil convergir responsabilidades, assim como não ter que lidar com a temível liberdade.

Outros tempos, outros cenários, estamos caminhando inevitavelmente para uma dimensão maior. Um campo de visão ampliado, dando margem ao “descortinar” de barreiras e paradigmas cujas explicações precisam ser dadas. Um mundo de transparências fazendo enxergar além dos muros antes feitos de concretos. Portanto é impensável neste mundo, a credulidade cega e o incontestável, assim como definir por sabe-se lá qual razão, a supremacia de uma única mente.

Assim, neste novo cenário, a imagem de um líder se aproxima também da sua transparência. Não só pela sua evidente intenção, pela clareza de seus atos, assim como pela sua “ausência” de protagonismo na cena. Sua imagem física cede lugar  à uma influência imperceptível, contestável, mas por ser óbvia, naturalmente aceita. Sua liderança é transmutadora, sempre positiva, pois sua ação flui pela lógica cursiva. Apesar de lidar com fórmulas, nunca as finaliza, pois suas combinações são infinitas. Tem à sua volta indivíduos completos que trabalham em equipe, e não uma equipe que se completa. Atinge altos níveis de percepção, sem que jamais se auto perceba como superior. Dissolve-se no ar, impregnando o ambiente, mas sem ser visto.  Sua estratégia é natural e sua inobservância disso é o seu segredo. Suas regras são silenciosas. Sua presença impregna com um saudável ar que fortalece a ação. Suas instruções são seguidas mas parecem vindas delas próprias, pois seus passos não deixam pegadas.

Como chegar à ele? reconhecê-lo? contratá-lo ou simplesmente formá-lo? Não se constrói o que foge à matéria, portanto a última questão está descartada. O líder contemporâneo simplesmente aparece, com alguma sorte. Abnegado, discreto, missionário por natureza, adentra uma empresa muitas vezes pela porta dos fundos, por onde muitas vezes saem sem se darem conta, preocupados estão em buscar um líder na multidão, com as vestimentas adequadas, refinadas armaduras,  as condecorações de trajetórias de batalhas afixadas ao seu Curriculum. Orgulho, pompa e fictícias lendas.

Circule pela sua empresa. Corredores, salas, entradas e saídas e pare onde o ar parecer mais respirável. Ali possivelmente encontra-se um líder. Investigue. Se for o caso, invista. Pois o menor que se possa dar à ele é retornado em um nível muito superior.

Se verdadeiramente desejar conhecer um líder contemporâneo…

procure-o nos fundos!