Waffle Street: o que você faria de graça e feliz?

Decidi passar algumas horas jogada, improdutiva, com um controle remoto em mãos e nada para pensar. Escolhi um filme, sem fazer nenhum esforço, um tema que pudesse minimamente gostar, e eis que, de um ato relapso, me vi em seguida à frente de um computador e algumas linhas para escrever. E fiz isso de graça e feliz.

O filme? tranquilo. Digno da intenção de relaxar e fazer algo semelhante a dormir com os olhos abertos. Só que, por fim, não foi bem assim. Waffle Street, uma analogia ao Wall Street, a todo o tempo paragonado na trama, em sua simplicidade se tornou interessante para mim que gosto dessas reflexões simplórias.

Relata a vida de um especialista em finanças, pós graduado e aficionado desde criança pela matemática e que não poderia deixar de chegar à uma “big and hot and famous” empresa do setor financeiro na avenida do poder. 

As cenas iniciais do filme são apresentadas com um significativo mantra ao fundo: ” Se não é ilegal, não é antiético!” que de tanto ser ouvido. acaba sendo automaticamente absorvido pelas pessoas que ali trabalham, incluindo o personagem principal, James. Contudo, com essa incessante frase martelando em seus ouvidos, James começa a ter uma espécie de conflito interno, pois começa a recordar da sua formação familiar baseada na ética e honestidade que viveu em sua infância. Essa dualidade é percebida e ele acaba se tornando um bode expiatório, sendo usado pelos diretores da empresa em uma jogada fraudulenta que, por fim, rendeu-lhe uma demissão injusta e sumária.

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Decepcionado, James decide mudar por completo o rumo de sua vida profissional, mesmo sem ter nem um outro tipo de experiência ou conhecer outras ferramentas de trabalho. Perdido, procura uma nova vocação, distante daquele mar de sujeiras, vigarices e tantas maldades, dessa vez, seguindo os conselhos do pai e do avô. Assim sendo, sai em busca de um trabalho mesmo que seja para começar do baixo, desde que honesto. O que poderia ser fácil com tantas qualificações que possui, mas que justamente por isso, acaba sendo um grande problema!

Ser um profissional de alto gabarito tornou-se um empecilho para ele na hora de se apresentar e mostrar o currículo. Além disso, a sua impecável aparência, postura e educação fazia com que os empregadores começassem a desconfiar dele, além de se sentirem visivelmente inibidos e, acabavam negando o emprego: – “Muito prazer, mas NÃO!”

Já sem muita esperança, o acerto de contas que recebeu chegando ao fim e sua mulher grávida, ele acaba indo parar numa espécie de fast food da franquia Waffle’s Papa, e aí começa a aventura no filme.

https://www.youtube.com/watch?v=E4A1LWWGkaA

Cenas hilárias ocorrem o tempo todo no filme quando James começa seu novo emprego, tentando se adaptar ao novo tipo de trabalho, assim como o estranhamento entre ele e os outros funcionário. Mas nada disso atrapalha a determinação do protagonista que, de quebra, vai se redescobrindo e encontrando o seu “eu” genuíno que ele tanto procurava e ele acaba descobrindo “baús de tesouros escondidos num ralo qualquer”.

Quebrando paradigmas com humildade, ele acaba percebendo que, afinal, nunca esteve distante de sua verdadeira vocação, a matemática financeira, mas o que precisava na verdade era adequá-la à um ambiente saudável e mais ético, desmitificando que o mundo de um profissional nessa área, ou em qualquer outra atividade semelhante, deva ser necessariamente trilhado apenas em organizações financeiras e com uma visão estritamente mercenária,

O filme termina com um diálogo sucinto entre James e o “homem da chapa” do Waffle papa, interpretado pelo carismático ator Danny Glover, que termina com uma pergunta digna de um encerramento para nos fazer pensar

“O que você faria, feliz, mesmo de graça?!”

Essa resposta é muito particular, não está pronta e não se encontra em livros, nem em testes vocacionais, nem no exemplo de vida dos outros. Ela está sossegada à espera que nós próprios possamos descobrir e responder.

                                                        

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