A História Triste de um País Órfão e Sem Educação

Tormento no ar, querências, indefinições, nenhuma ideia surge em meio a esta confusão. Estamos sem rumo. Largados neste país gigantesco, diversificado, rico, relativamente jovem e, sem esperanças, nosso idolatrado Brasil. A desordem é tamanha que as notícias se misturam à comentários insanos e mascarados deboches que só servem para fazer perder o peso, a gravidade de um promíscuo governo. A veracidade dos fatos, as fontes de informações viraram uma bandalha de partidos e jogos de acusações que as pessoas perpetuam nas redes sociais inconsequentemente. Imparcial, o governo virou às costas  e faz a festa sozinho, se aproveitando do tumultuo proibiu nossa entrada e não se detém. Lá dentro uma ou outra peça, sempre alerta,  luta quase sozinha, em minoria, ameaçada de extinção.  A inércia tomou conta da população, muitos abandonaram literalmente o barco e fugiram e os que ficaram olham preocupados e atentos ao seu metro quadrado antes que este se vá, minimizando o foco e deixando de lado o problema maior, o futuro da nação… De comum, apenas, a constatação da grave crise, histórica por sinal, que não é só financeira e política, mas é moral e de identidade, ofuscando qualquer sentimento de nacionalismo. O lixo trazido à tona diariamente, ordinariamente, embaça a visão e já não se consegue apontar culpados e tomar decisões, muito menos lutar.

Me pergunto se essa será apenas mais uma pensada estratégia de gerar uma terrível manipulação popular, confusa, porque sendo contraditórias, as partes se anulam por elas próprias. Povo discutindo com povo. A desunião que enfraquece e deprime. Terreno propício para o domínio e a permanência do mal.

Mas, otimisticamente…

Não acredito que haja por trás um propósito, uma “engenharia” que seria, neste caso, quase “maquiavélica”. Como também não acredito na justificativa simplista de que tudo de ruim que está acontecendo são as contas para pagar trazidas pelo governo x,y ou z, de uma época tal ou atual, ou muito menos que venha de um partido específico, muito menos de um político, não lhes dou esse crédito para tamanho estrago. Infelizmente o que realmente penso, depois de uma reflexão, revendo o histórico de nosso país é que o que nos limita como seres humanos é algo bem mais sério e profundo e, por isso, muito mais grave. Uma doença congênita nacional que se arrasta com crises, colapsos e lutas por todos os seus 517 anos de vida, sem nunca ter sido realmente tratada. Uma doença passada de geração à geração, de ignorância, de sobrevida. Fomos e somos órfãos abandonados, sem identidade, e não aprendemos a cuidar de nós mesmos, falta-nos o antídoto, o remédio que ergueu todas as nações bem posicionadas no mundo. Falta-nos e sempre faltou-nos, EDUCAÇÃO.

O Brasil teve desde o nascimento, uma exploração predatória, onde suas terras foram sugadas, rasgadas, manchadas de sangue inocente, sua população nativa dizimada, escravizada. Suas riquezas roubadas, contrabandeadas. Os que aqui vinham tiravam tudo e deixavam só os filhos bastardos, miscigenados em raças, costumes, línguas, sem herdar um centavo, nem mesmo amor, muito menos educação. Esses gananciosos exploradores, acharam riquezas de todos os tipos, agrícolas, minerais, territoriais, levavam tudo que viam, e de graça. Portugueses, espanhóis, holandeses, franceses numa exploração contínua, sem limites. Chegavam, tiravam e nada investiam. Os índios, ignorantes e puros, ajudaram até onde podiam, até enxergarem a maldade e com justificada raiva, lutaram e comeram até as vísceras daqueles que outrora foram visitantes bem vindos. Colocaram no pacote dos homens brancos a praga do fumo para que levassem para casa a promessa de uma morte anunciada. Lutaram, mas não resistiram por muito mais tempo. Estavam nus. Não tinham nada. Sobraram poucos, os que se renderam, trabalharam, forçados ou não. Eles foram os olhos e os pés desses homens desalmados que os desprezavam pelas terras que exploravam. Depois, vieram os negros, trazidos como objetos, sem distinção, e os fizeram escravos. Fizeram filhos puros e mestiços, negros e índios e brancos. Mamelucos, mulatos, caboclos, misturados na escravidão. Os brancos que aqui fizeram moradia mandavam seus filhos à Europa para estudar. Filhos legítimos que estudavam e voltavam e casavam-se com os brancos em iguais condições e faziam outros filhos bastardos, sem direito à educação. Houve um momento na história que a realeza veio, mas assim como veio, foi embora. Deixou seu filho branco que gostou do cenário de prazeres livres e aqui disse: “Diga ao povo que fico!” mas não  os acalentou e os filhos bastardos, negros e índios nem tampouco educou. Não paravam de trazer escravos, pois o ouro foi encontrado! Essa terra se encheu de escravos e seus exploradores brancos, na grande maioria portugueses, para fugir dos quinto dos infernos, corrompiam, aliciavam e o contrabando, a corrupção já  assim fazia sua estréia. À um dado momento, já na segunda descendência da monarquia, o Paraguai entrou em guerra com o Brasil, seis anos de guerra sangrenta. Os escravos vestiram uniformes e lutaram, mas muitos morreram, de lá e de cá. Nesses seis anos de luta, os escravos se conheceram entre estados e, com o propósito de combater os paraguaios ganharam a alforria. Isabel, filha de D. Pedro II, então monarca, viu que não havia outra hipótese senão os libertar. A monarquia acabou, os brancos continuaram ricos, alguns negros conseguiram se safar, mas nunca puderam estudar. De algum modo porém a guerra conseguiu trazer a sombra de um sentimento nacionalista e esses filhos de escravos, índios e bastardos eram agora brasileiros filhos dessa nação. Alguns portugueses também por aqui ficaram e transferiram para seus filhos brancos suas terras, riquezas e o poder. República instaurada, depois passou a ser velha, entrou Getúlio Vargas, instituiu melhorias para os trabalhadores, o país crescia. Veio o Estado Novo, mas a educação continuou esquecida, até mesmo com JK, nem com o regime militar, nem depois, nem agora, ela jamais foi um meio, nem decerto constou na pauta de um progresso popular.

O Brasil tem uma população semi analfabeta e, para os que estudam, um ensino precário. Não há acesso à estudos sociais, filosóficos e ciências que em todas as suas vertentes se encontra em estágio primário, não explora o raciocínio, deixando o povo esvair-se em superficialidades, em banalidades. Não temos meios, ideias, nem ideais definidos. O potencial ainda vem de fora, as empresas, bancos e investimentos ainda são para extração de riquezas em forma de capitais e lucros, nos mantendo apenas operantes e mal pagos, nas mesmas condições de exploração do passado. Nossa mídia é monopolizada e pobre de diversificação. Nossa salvação é a quase autodidata busca de conhecimentos, mesmo que desordenada, ainda restrita à certos locais e condições.

Deixar à nossos descendentes um melhor acesso à educação de qualidade, à um intelecto mais complexo, à possibilidade de extrair da inteligência individual, competência, e encher nossos hospitais, escolas, empresas, governos, artes, campos e florestas de potenciais humanos com novos horizontes. A nossa única saída. Aproveitar nosso patrimônio ambiental e salvaguardá-lo da exploração estrangeira. Sentar à mesa das nações unidas como iguais. Debater a inibição de uma possível guerra mundial, de uma catástrofe climática devastadora. Convidar os estrangeiros a conhecer um país paradisíaco e sem violência, que quase sempre é fruto do desespero e da fome, ajudando também países mais pobres a se livrar dela. Aprender a negar o ato invasivo quando este não for bom para nós. Adotar nossos filhos perdidos, passados e futuros e criar jovens saudáveis, sem medo, sem mimos desnecessários. Ter universidades que atraiam estudantes de todo o país e sejam referências de avanços científicos…há tanto que se pode fazer quando se tem a educação

Temos uma eleição à frente, cada um de nós dará seu voto. Vamos esquecer as desavenças partidárias. Vamos estudar à fundo os projetos de cada um dos políticos, vamos examinar suas fichas, seus ideais, vamos buscar todas as informações possíveis e imagináveis. Vamos abrir a porta para uma reviravolta histórica tão grande quanto a crise em que estamos. Vamos amadurecer e parar de discutir política como se estivéssemos vendo um jogo de futebol. Se for preciso, misturaremos os jogadores, mas vamos buscar os certos. Ainda estamos muito doentes, fracos, tontos por tanto abandono, mas a cura é possível. Procuremos o que há de melhor, o que estiver ao alcance e com os olhos voltados para a educação, nosso remédio vital. Nossa chance é única, limitada, mas ainda é uma enorme chance.

Sairemos dessa, só assim, mas sairemos…

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