Difícil é saber distinguir onde nos situamos profissionalmente, por opção ou pela falta dela, pois há sempre uma indefinição alongada devido à voraz deglutição do nosso tempo.
Muitas vezes pensamos seguir uma vocação, aquela voz interior que geralmente vem lá de trás e do fundo, mas na hora de a pôr em prática podemos nos deparar com truculentos empecilhos que nos cortam as asas até um dia entendermos que não podemos com elas voar. Outras vezes, estamos tão distante de nós mesmos, que passamos a vida sem a conhecer, quanto dirá dela usufruir. E assim, com a visão embaçada, pois a mente facilmente se distrai quando não estamos onde devemos estar, perdemos o foco e tudo fica a ser quase sempre vago, incerto… um olhar míope da realidade.
Vamos então nos virando, aos tropeços, caindo em buracos, construindo trabalhosos castelos à beira d’água, arriscando aqui e ali, até o tempo se esgotar e vamos conseguindo, de alguma maneira, chegar ao fim da missão que é cumprir com o que temos à frente e até o fim, sendo este ou não o real sentido da nossa história.
Resumidamente constatamos que as dificuldades e distrações acabaram por nos fazer perder o caminho da vocação. Quando se perde o contato com o interno, o externo comanda, o que está em torno dita o destino, a dispersão do seu “eu” engole o tempo, o fim se aproxima e quando se vê, não sobra nada de você. Nada de original. Você se perde na necessidade de viver, sem nunca ter realmente entendido a razão que o fez e para que fez estar aqui vivendo.
Passamos então a perseguir uma profissão. Quantas ferramentas iremos precisar para a formar? Quanto de sacrifício faremos para fazer dela a nossa vocação? É preciso investir, pois como sabemos, não é um dom, pois mesmo que fosse, vender o peixe nunca é simples, por isso, há que se ter recursos para captar competências, para que se sobreponha e isso também requer o que quase sempre não se tem…

Passemos então a nos contentar com um emprego. “Tenho que ter um lugar para morar, comer e uma roupa para vestir ao menos…” Quanta necessidade precisa existir para se contentar apenas com um mísero emprego? A pirâmide de Maslow se ergue não apenas como uma pesquisa sociológica de suprir necessidades humanas e se fixa, pesadamente, na realidade cruel que limita o destino. Como essa que construí aqui abaixo em PowerPoint…

Como superar a realidade se na visão esticada para fora, para o que nos rodeia, não encontramos sequer as mínimas possibilidade de se ter uma profissão, muito menos descobrir a nossa vocação? “As coisas são como devem ser” alguém nos diz apaziguando ao que, em seguida, vem a indagação: “Será que um musicista genial jamais nasceria, pela ordem Divina, num deserto ou no Afeganistão? Haverá tanta ordem assim no destino de cada um dessa imensa população? Ou será que esse musicista ouvirá o som das patas do camelo no deserto e sua inspiração vocacional intuirá notas musicais, fará da pele do camelo e uma lata de água um instrumento e partirá por algum motivo para algum oásis onde alguém encontrará seus talentosos ouvidos e lhe dará uma oportunidade? Oxalá, me traria esperança de escrever isolada em algum lugar que ninguém vê…
…e no deserto
Se a visão espiritualista nos diz que tudo tem uma razão de ser, até mesmo o erro, eu diria que se assim for, o livre arbítrio não é tão livre assim…