A disputa continua acirrada não importa quão virulento seja o Covid. E o incrível que a violência vem mais da direita, enquanto a esquerda está discreta, lutando ativamente mas sem desespero, em meio às ameaças, mesmo tendo perdido o trono. Seu rei e rainha foram derrubados sem provas, um xeque que não deveria ser mate.
Ontem, eram oito da noite e teve mais um “panelaço”. Da janela do meu apartamento comecei a ouvir o batuque metálico enquanto o presidente fazia o seu pronunciamento de sempre, confuso e desmiolado. O mesmo som ouvido em 2016, mas com um grito diferente: “Fora Bolsonaro!” que substituiu o “Fora Lula”, De repente, uma voz masculina trovejou em meio à este novo grito: “Fora Comunista”, seguido de um “Vai pra Cuba” juntando na mesma panela os que rejeitavam as loucuras do atual presidente com os reacionários de esquerda (que quase não se vê mais) e, visto que nem tudo que ronca é porco, nem tudo que berra é bode, nem tudo que reluz é ouro e nem todo pobre revoltado é comunista”. O homem começa a travar sozinho uma disputa insana de gritos que durou bastante tempo, até que as panelas se calaram e voltaram para os armários.
Me impressionou a intensidade da voz do homem que sobressaía às panelas, parecia um rosnar feroz e que a ameaça atual fosse um vírus comunista. Um homem em guerra por uma ficção, pois se estivesse em sã consciência perceberia que estava lutando contra uma realidade. Talvez, para ele, a luta só vai terminar quando a superfície plana da terra colar no teto do universo estrelado e esmagar a todos, inclusive a ele mesmo. Pois está claro e explícito, como o azul do céu no firmamento, que Bolsonaro é um real despreparado para o cargo e, mais ainda, para o momento em que estamos vivendo. E é ponto pacífico. Só que para ele é guerra.
Deixo aqui claro, antes de qualquer ira e xingamento, que não tenho partido. Aliás, desprezo à todas essas siglas que sugam as verbas do nosso dinheiro suado. Por mim, poderiam até deixar de existir. Escolho pelo indivíduo. Como faz o técnico quando escolhe os jogadores para compor a seleção nacional. Não importa o time que pertençam. Pesquiso seu histórico, vejo quantos gols fez, analiso seus feitos, seus gestos, sua bagagem, sua estratégia e, não sendo, neste caso, apenas um jogador de futebol, pesquiso também seu percentual de empatia, inteligência, conhecimento, a ética na sua trajetória, sua luta, sua capacidade analítica e como reage à seus adversários (muito importante). E, mesmo assim, reconheço que é uma aposta.
E voltando ao vozerio, enquanto as panelas batiam, lembrei da corrupção. A grande praga a que todos se referem. Mas qual nada! Não se iludam, pois a briga é de clãs. Foi apenas o pretexto para a caça às bruxas. Que como na inquisição, bastava flutuarem n’água para serem logo enforcadas como bruxas, os comunistas!
País de corrupção, da Lei de Gérson, do levar vantagem em tudo, do pagamento com desconto sem recibo do médico, dos laranjas e das loterias fraudadas, do trabalho escravo, das malas endinheiradas, dos jatos com cocaína, das propinas, do terror nos subterrâneos, das máfias, dos funcionários fantasmas, das cadeiras desocupadas…. Triste é ver a corrupção assim tão mal interpretada.
Quanto ao Covid, está em toda a parte, em todos os lados. Direita, esquerda, acima, abaixo e que, talvez tenha vindo pra mexer nas panelas e desandar a comida, principalmente aquela estocada.
“Que fiquem os que efetivamente podem atirar a primeira pedra, quando seus telhados não são de vidro, ou que pelo menos fiquem os humildes e os desamparados, pois pelo menos eles têm alguma justificativa para errar…
E fora aqueles que só olham seus próprios bolsos!