Assisti duas vezes. Um filme sem muita publicidade na mídia, por isso deve passar despercebido por muitos que assistem a Netflix. Lançado em 2019 e catalogado como comédia, Um Banho de Vida, com direção de Gilles Lellouche é na verdade um drama, mas acaba por oferecer um prazeroso ‘banho de vida’ para o expectador. Está no lugar certo, com toda a leveza e o frescor que uma comédia exige.
O que mais impressiona no filme é a sua imprevisível forma de transmitir a mensagem. Normalmente, temas como angústia, depressão, frustrações, carências e medos quase sempre são abordados com muito drama, quando não, fantasia, dando espaço para uma espécie de ficção. Em ‘Banho de Vida’, ao contrário, esses sentimentos são vividos com natural realismo. Essa é talvez a chave e o diferencial do enredo cuja sutileza na sabedoria dos personagens, muito bem interpretados, acabam por os fazer conviver com seus dramas sem, no entanto, se tornarem infelizes.
A história narra sobre sete homens já maduros que frequentam uma piscina (aparentemente pública) e se inscrevem em aulas de ‘nado sincronizado masculino’.
O último a entrar na turma é Bertrand (Mathieu Amatrich) que sofre de depressão e está desempregado já há algum tempo. Toma medicamentos controlados. Pai de família, casado e com dois filhos, uma menina carismática e um filho adolescente com crises existenciais próprias da idade, Bertrand se vê no limiar de uma tristeza profunda, mas a encara com naturalidade, que é a tônica mais importante no filme, e faz com que administre seu grave problema com um inteligente toque de humor.
O restante do grupo, incluindo a instrutora, tem cada um a sua própria dor. São variados tipos de problemas, desde bulling, à trauma materno, carência afetiva, falência financeira, alcoolismo à falta de perspectivas pessoais e profissionais.
Eles se reúnem, sempre após as aulas, na sauna, anexa à piscina, e falam, cada um a seu tempo, sem nada combinado, de seus dramas e todos são ouvidos, discretamente, sem nenhum melodrama.
Em determinado momento, apesar do preconceito dos outros pela atividade que frequentam, eles decidem se inscrever em um torneio mundial de nado sincronizado masculino. O final já é esperado, a velha fórmula de superação de desafios num estrondoso espetáculo. mas o filme consegue ir além e emociona mais do que o previsto, não só por todas as passagens dos personagens, mas pelas cenas, fotografia, além de uma trilha sonora fantástica.
Não digo que verei o filme uma terceira vez, pois as cenas ficaram muito bem gravadas na memória, mas é um belo entretenimento, além de passar um recado que vale mais que muitos livros de autoajuda e serve para a vida.
Fica a sensação de que as pessoas se encontram não por um acaso, mas por suas fragilidades e que, mesmo sendo de naturezas diversas, acabam por fazer com que se tornem semelhantes. E se assemelhando, elas se unem. E se unindo, se identificam, E se identificando, se edificam.
Um filme que particularmente recomendo,
Kawer
Excelente resenha e filme <3