Estava prestando um serviço voluntário e, como havia mais pessoas ali, na saída, combinando transportes, aceitei a carona de um senhor que estava no grupo e ia para o mesmo local. Era um senhor já idoso, seus setenta e poucos anos e bastante conhecido de todos. A conversa fluiu amena logo que entramos no carro e rumamos para o bairro onde ambos morávamos. Ele contou que estava aposentado e que trabalhava como engenheiro civil e contador. Conversa vai, conversa vem, olhando a paisagem e as pessoas que caminhavam pelo comércio de rua, de repente a conversa descambou para outro lado.
“- Tudo agora é culpa do Bolsonaro! Não deixam ele governar, se não fosse ele a gente estava ferrado! Genocida? Genocida é a China! Eles é que guardaram o vírus e espalharam. Estavam com ele (o vírus) guardado desde 2015. É que eles têm medo de ficar sem alimento. Eles compram alimento e vendem pra gente esses brinquedinhos de criança. A Coronavac não foi comprada porque não tinha aprovação da Anvisa e os chineses não quiseram vender. E a Rede Globo só mete o malho, não fala o que ele (Bolsonaro) fez de bom.”
E eu me fiz de inocente…
” – O que, por exemplo?”
” – A transamazônica!”
Me encolhi no banco do carona, e deixei o barco, ou melhor, o carro andar.
” – A culpa é do STF! – continuou ele, encoleirado – Aquele Lewandowski, esse cara, ele é do governo Lula! Foi ele que escondeu as provas contra ele (Lula). E o outro lá?! O outro, aquele careca! Era presidente do PC! Tudo um bando de comunistas!!
Foi uma enxurrada. A distância era curta, finalmente a conversa teve que findar.
“- Olha, eu posso ficar aqui nessa esquina mesmo. Muito obrigada pela carona!”
E quando saí do carro, com receio de deixar aquele senhor afogado no mar do nonsense, cujas ondas causam mais estragos do que um tsunami, enquanto fechava a porta só pude lhe dizer rapidamente…
” – Procure se aprofundar mais sobre tudo isso”
E deixei que ele seguisse sozinho.
O que dizer? Estamos falando de um senhor aparentemente educado, classe media provavelmente alta pelo carro que conduzia, graduado em engenharia.
Olhei para o sinal fechado, atravessei a rua um pouco triste e preocupada. Quando cheguei do outro lado, olhei para o céu, um dia claro, e só pude desejar que em breve essa nuvem de fumaça tóxica e invisível possa ir embora e que o país consiga pouco a pouco descortinar essa poluição que cega os olhos de boa parte da população para que possamos voltar a ter paz.
Aonde se deixa o “gosto” por aqui?