É a primeira vez que começo a escrever pelo título. Sei que não tenho como provar, mas acreditem, foi exatamente assim. Tá, e o que importa isso? É que acho engraçado. Deixo sempre para o final o batismo da criatura. Só depois que vejo e revejo suas linhas de expressão, por onde minha mente mais tempo se deteve a criá-la, é que vou lá e coloco o nome no berço. Mas hoje, não. Foi o título que me pegou pela mão e me obrigou a sentar e escrever.
E eu sei porque. É que a frase adquiriu uma importância ímpar, diria até arrogante, em minha vida. Virou uma espécie de mantra inconsciente. Convivo com ela sempre que insinuo começar algo ‘mais ousado’, principalmente quando, entrelinhas, isso possa me expor ao público.” – Não, nem pensar, não tenho jeito para isso…”
Quando eu era criança, já enxergava muito mal, mas não tinha consciência do fato. Faltava-me o parâmetro para saber o que era enxergar bem. Eu saia tropeçando nas coisas, mas a minha alcunha era só de ser estabanada, nada além disso.
Minha mãe descobriu, por acaso, a razão dos tropeços quando eu já tinha 7 anos de idade e estava entrando no primário. É que fui obrigada a fazer o exame de vista antes de ingressar na escola. A notícia da miopia veio escancarada como ela própria se caracteriza, incurável e crescente: ” – Minha senhora, sua filha não enxerga quase nada do olho direito!”. Sete graus de miopia neste e quatro no outro foi o diagnóstico do optometrista.
Dali para a frente, junto com os fundos de garrafa, vieram novas alcunhas, de ‘quatro olhos’ à ‘CDF’, que perduraram durante praticamente toda a minha infância e pré-adolescência até os 14 (concretizando a teoria dos setênios em minha vida: os ciclos que mudam de 7 em 7 anos) e foi quando meus pais puderam comprar as minhas primeiras lentes de contato, o que mudou significativamente tudo (aproveito para homenagear a Otto Witchterler seu inventor. Meu sincero agradecimento e devoção, pois as uso até hoje, amém).
Esse relato foi só para dizer que a vida nos testa o tempo todo, desde que nascemos, com ou sem características e/ou limitações hereditárias, físicas ou ambientais. Os ‘obstáculos’, com o tempo, se mal interpretados e orientados viram pequenos traumas que vão se solidificando no inconsciente e se transformam em ‘bloqueios’ e estes acabam por nos impedir de fazer muitas coisas que às vezes já não tem nada a ver com o problema em si.
A vaidade para um(a) adolescente de qualquer geração conta bastante, principalmente num mundo materialista que exige beleza o tempo inteiro, mesmo que você se transforme num(a) cientista. Principalmente para a mulher essa imposição sempre foi uma carga insuportável.
E, assim, se desenvolvem certas ‘limitações’ que muitas vezes dão origem à características como a timidez, por exemplo, que a maioria considera um excesso de modéstia, de baixa autoestima, mas que, muito honestamente, para mim, não passa de um alto grau de vaidade. A timidez impede muitas vezes que a pessoa consiga ‘enfrentar’ o mundo, buscar parcerias ou expor seu trabalho porque, no fundo, tem receio de não receber em troca a aceitação desejada, ou uma aprovação ou algo que corresponda a expectativa secreta de admiração e elogios. A entrega de algo deixa de fazer parte apenas do seu processo de desenvolvimento individual, independente, indiferente a qualquer retorno.
” – Falar em público? nem pensar…” ” Montar um canal no Youtube, hu-hum, não consigo” são as mais frequentes frases que a timidez me impõe. Na tabuada do 7 lá vou eu fazendo aqui as contas… ainda faltam uns anos para eu vencer essa timidez e lançar meu projeto, abrir meu canal, oferecer meus serviços, divulgar meu blog, me abrir com aquela pessoa para quem tenho um sentimento especial ou com aquela outra que pode me ajudar a ampliar meu Network… o que me custa?
Vencer a timidez. Afinal, jeito, sim, todos nós temos. Se é para apresentar ou vender aquilo que se faz é algo que já nascemos fazendo. Vejam os bebês. Eles não tem o menor problema de demonstrar o que querem ou fazem. A exposição e o medo à crítica vem com o tempo, quando nos tornamos adultos e percebemos que isso conta mais do que aquilo que temos para oferecer. Que pode não agradar a todos, mas que em algum lugar do mundo, poderá fazer diferença para alguém que, se reconhecendo na causa, deixará de se sentir sozinho. Não será o suficiente?
“Mas e a vergonha, é a mesma coisa?“ Não, ela está associada a inadequação, portanto, não tem nada a ver com o caso.” Tá, então se o problema está em eu ser discreta?” Também não tem a ver. A discrição é só um dos muitos formatos possíveis de se apresentar, portanto…
Refém do título, submissa ao seu comando, acabei ganhando uma lição. O título me forçou a repensar sobre o assunto e a expor minha imagem um pouco dando à frase, agora, um novo sentido.

não, tenho jeito para isso