Fui ver A Baleia nesta quarta-feira.
Dentre esses filmes que estão concorrendo ao Oscar 2023, escolhi ‘A Baleia” movida pela curiosidade de reencontrar, após tantos anos, o George, o Rei da Floresta, de 1997, tão ‘mudado’. O carismático ator Brendan Fraser reaparece, agora, para mim, como Charlie, carregando mais de cem quilos de prótese, além de outros tantos quilos ganhos com a idade e ainda mais alguns para obter o papel e, confesso, que o que mais me impressionou na mudança foi muito além do aspecto físico.
Brandon Fraser atuou em muitos filmes, na sua grande maioria, filmes de ação e/ou comédia: A Múmia, o Retorno da Múmia, De Volta p/ o Presente, Looney Tunes – de Volta à Ação, G.I.Joe – A Origem de Cobra, entre outros, menos famosos e, após um longo afastamento, devido à problemas de saúde que o obrigou a passar por muitas cirurgias, retornou, a partir de 2008, com participações significativas em outros filmes, inclusive do gênero suspense.
Nesse filme, um drama literalmente pesado, conta com uma interpretação ímpar do ator que parece, efetivamente, ter engolido o personagem como, de fato, as baleias podem fazer.
Seu retorno, em A Baleia, como protagonista, talvez seja a sua grande revelação e, se ganhar o tão disputado Oscar de melhor ator, acho que será bem merecido.
O personagem vivido por Brandon Fraser, Charlie, é um professor de letras que dá suas aulas online. Após ter perdido uma grande paixão, o personagem se isola, se fecha em seu sofrimento e, supostamente, faz a única coisa que lhe pode oferecer ainda algum prazer: Comer. Mas parece que a gula acaba por fugir ao seu controle e se transformar em seu maior pecado.
As únicas pessoas com quem Charlie tem contato é a enfermeira Liz (Hong Chau), sua amiga e irmã de seu grande amor perdido, que constantemente visita-o para compartilhar a dor do luto e ‘monitorar’ sua saúde. A outra pessoa é um entregador ‘food delivery’, que deixa suas encomendas no batente da porta, mas que, antes de ir embora, sempre pergunta ao ‘misterioso’ cliente (porque nunca se viram) se este precisa de alguma coisa.
Uma parte importante e, por diversas vezes relevada no filme, é a ligação de Charlie com a baleia Moby Dick, do famoso romance de Herman Melville. Na obra original, em síntese, quem já leu o livro sabe, o tempo todo o mamífero luta furiosamente por sua sobrevivência e tem no caçador Ahab, de quem acabou por arrancar uma perna, seu inimigo mortal que, no fim da história, acaba afundando em seu próprio navio.
Apesar da saúde precária, decorrente de sua obesidade mórbida, Charlie se recusa a pedir uma ambulância e ir para o hospital alegando que não quer se endividar, uma triste realidade americana que salta aos olhos dos espectadores e que pode revoltar a qualquer cidadão por saber que não pode contar com um atendimento de emergência gratuito. Nessa condição, Liz apenas assiste a cada dia a piora do amigo que insiste em pôr em risco sua própria vida.
Charlie tem uma filha, Elie (Sadie Sink), fruto do seu casamento com Mary (Samantha Morton) com quem mantém um relacionamento distante por ele ter se afastado por completo da filha após a separação, cumprindo apenas com o pagamento da pensão. Essa situação faz com que Charlie conviva com um grande remorso, porém irreversível, pois vê que, Elie, se tornou uma adolescente revoltada de quem a própria mãe considera possuir uma personalidade perversa.
Nesse cenário, muito bem construído, surge um novo personagem, Thomas (Ty Sympkins), trazendo ao filme uma controversa temática entre a religião e a realidade da vida. Ele faz o papel de um crente protestante da ‘Nova Vida’ que tenta levar a ‘palavra’ para Charlie, batendo à sua porta, mas que, futuramente, se mostrará como um misterioso personagem.
Um drama profundo, muito bem interpretado por todos os atores, especialmente por Brandon, e que move nossas mentes para diversas direções, nos colocando diante das vicissitudes, boas e ruins.
Enquanto assistia o filme com minha filha, com o pragmatismo de sempre, eu lhe disse: “– Se fosse um filme-reality e eu, desavisada, surgisse de repente no cenário, o filme acabaria no primeiro ato” ” – Por que mãe??”” – Eu já teria chamado a ambulância para levá-lo e logo se via como se faria para pagar”
Kawer


Análise fantástica! Ao ler a resenha dá vontade de ir imediatamente ao mais próximo cinema e degustar da obra. obrigada