Veraz e Mandaz são dois avatares virtuais. Individualistas, com personalidades bem distintas, seguem, desde que o mundo é mundo, em oposição permanente. Seus propósitos determinam a sobrevivência um do outro na Arcádia Suloceânica. Se um ganha, o outro se extingue, pois não há como dividirem o mesmo espaço se não estiverem em equilíbrio, pelo menos de armas.
O jogo está em curso e a luta parece cada vez mais acirrada e é muito cedo para arriscar um palpite final. A única coisa que se sabe é que a balança está em desequilíbrio.
Mendaz, um avatar manipulador e mentiroso, ainda tenta dominar o cenário, apesar de ter perdido seu trono. Uma grande preocupação recai sobre todos os avatares da Arcádia que estão se tornando confusos e desesperados, pois perderam a noção do que é a verdade e a mentira, perderam o norte de suas próprias vidas, para onde estão indo, do que desejam ou o que lhes acontecerá no futuro…
Já Verdaz é uma avatar simples, por ela nada disso estaria acontecendo. Ela é do estilo ‘pão é pão’ em qualquer formato desde que esteja claro e listado todos os seus ingredientes com sua tabela nutricional ao lado. Entretanto, por mais que Verdaz tente se adaptar à situação caótica do jogo que Mendaz iniciou, mesmo que use de diplomacia e se apóie na justiça para sua própria segurança, ela se expõe, não consegue se esconder. Verdaz sempre vem à tona, indignada, altiva, como aquela super-heroína que, com sua capa, aparece do nada, e revela tudo, balançando as falsas estruturas.
Mas Verdaz também já foi amiga de Audaz que é um Avatar que traz ímpeto e coragem ao lutador, mas que não se compromete com ninguém… Audaz, inicialmente, era amigo dos dois, Verdaz e Mendaz, em simultâneo, mas sua função é somente instigar a luta não lhe importa com o que cada lado tem a dizer. Ele acende a fogueira, impulsiona à ação e amarra junto uma carga bombástica… “-Vá!! mete bronca! jogue tudo na rede! Não seja bobo, aproveite, mostre quem você é !!”
Com o tempo, Audaz acabou servindo mais à Mendaz, que tem na mentira o seu propósito e, como não precisa de provas, não tem compromisso, nem limites para agir. Se utiliza de seu poderio financeiro adquirido enquanto ocupava o trono.
Verdaz até se aliou à Audaz por um tempo quando viu que estava difícil enfrentar Mendaz e o procurou para conseguir uma estratégia compatível, mas se viu ‘embaraçada’ com acusações de déspota, inconveniente e repressora por Mendaz e seus apoiadores.
Tiveram que chamar Justeza, uma avatar estudiosa, disciplinada e muito séria, que existia na Arcádia há séculos, mas que estava de repouso, após ter passado por um período de ostracismo em meio à barbáries, guerras e regimes ditatoriais que a colocaram em exílio. Aproveitara o tempo para escrever seu melhor livro, a ‘Constituição’, do qual se orgulhava. Ali havia posto tudo, os pingos nos iiis, ouvindo sempre os dois lados da sua balança, que sempre trazia consigo, sua ferramenta de trabalho. Justeza percebeu que a aparente ‘normalidade’ em que Verdaz e Mendaz disputavam com bate bocas em debates e comícios estava agora à um nível preocupante com ameaças de golpes e clamor à ditadura novamente.
É que Mendaz estava exagerando, não aceitara a perda do trono e, com todas as mentiras continuava a querer dominar a população pintando o quadro como queria, desde o mais abstrato absurdo ao mais complexo contexto fictício.
Não sabemos exatamente qual será o fim desta história… o jogo, como disse, ainda está em curso. Agora precisamos ter uma maior destreza, após decidirmos qual avatar irá nos representar. Tudo irá depender somente de nós, jogadores do outro lado da tela, para se chegar ao desfecho desse jogo.
Se ainda não sabe por quem lutar nesta altura do jogo, o conselho é dar um tempo, sair da sala, recompor a mente e refletir com calma. É que o problema é excesso de informações. Somos usuários de uma rede de aplicativos e seus canais que fazem parte da vida das pessoas 24h por dia e com toda a sua bagagem, na grande maioria, superficial, alimentam ainda mais a falta de discernimento gerando mentes dispersas e confusas. A quantidade de besteirol nos Tik Tok, Instagram e Facebooks da vida, além de outras redes ainda mais perigosas, influenciam principalmente jovens e crianças. A armadilha parece construída para aniquilar o raciocínio.
Se pudermos virar o foco, nos aproximando mais da realidade, sem distrações, conseguiremos enxergar o mais importante: o tempo através do nosso corpo. Não nos adianta puxar, costurar, enxertar aqui e ali que a pele seguirá as regras do seu peso na gravidade. Podemos hidratar, ingerir bons nutrientes porque é saudável e, sim, retarda o desgaste do envelhecimento, mas a ordem natural fará, inexoravelmente, com que a pele murche, que se despregue aos poucos dos ossos e músculos como um preparo para a alma se desprender rumo à liberdade. Essa é a verdade.
Com a mente, tudo se revela também com o tempo. Parte da nossa memória vai sendo administrada e outra parte ‘escondida’ no mais profundo recôndito do clandestino inconsciente. Mas até este vem à tona de alguma forma, se não é por si, vem por ele mesmo, em nossos sonhos e pensamentos… trazendo a verdade rejeitada.
Mas é no coração que tudo se torna complexo, são veias, é o sangue que circula por inteiro, é o órgão-mestre que bombeia o vermelho que energiza, que pulsa e expulsa os mais íntimos desejos, o princípio do prazer, de Eros, da vida, com toda a sua beleza e romantismo. O sentido mais verdadeiro.
e, assim, ligados ao nosso corpo, com realismo, com o dedo, apertamos o interruptor de luz – “…um click”.
E despertamos. Assim é a verdade.
Imperiosa, surge e se revela quando tem que se revelar.
Muitas vezes com apenas um click…
“A verdade é filha do tempo…”
Galileu Galilei
