Mato no peito e brinco, quico no joelho, aqui, ali, me contorço, ajeito nos pés e.. não, não tenho intenção de fazer um gol, a distância ainda é muito grande. O coração está tão quente, sinto seu calor e a liberdade. No campo, sozinha, faço a coisa toda por mim mesmo, não tenho pretensões, me dou por feliz assim, apenas escrevendo, assumindo este título.
Não vou deletar meu currículo, minha formação acadêmica, apesar de não ser de grande valia, mas joguei fora os cartõezinhos que fiz para vender docinhos, os panfletos das aulas particulares, é tanto material, pastas, projetos que tenho em torno de mim, tantas tentativas mal empregadas, sempre com pouco embasamento e recursos, que deles só quero aproveitar as aventuras.
Com lenços e documentos fui para fora do país, passei por trabalhos medíocres, não no sentido pejorativo, é só no mediano mesmo: balconista, garçonete, caixa em discoteca, vitrinista, promotora em mercado, em quiosque, com a simpatia, conquistei alguma melhoria e até cheguei à gerente, mas só com quarenta e cinco consegui fazer faculdade, com sessenta, uma pós e, como autodidata, traduzi seis romances numa epidemia, ‘engavetei’ um programa de treinamento para pequenos negócios, não mostrei à ninguém, tá lá esquecido, morreu antes de mim. Tudo isso para, finalmente, chegar à conclusão de que consegui fazer do meu currículo o caos completo em formato PDF…, e quem vai olhar para isto?
Não tem importância. Parece tarde, mas nem tanto. Solto para o Universo e, como pandora, me agarro no que sobra, a escrita, junto com alguma herança, coisa pouca, que possa vir a receber, além da aposentadoria e alguma eventual sorte na loteria.
É mais uma história de vida, igualmente única como a de qualquer indivíduo que possa estar lendo isto. A diferença está só na dinâmica que varia de morfologia, genética e das pessoas ao redor que, aliás, dizem, reaparecem do arcabouço de alguma vida passada, mistério que Freud se recusou a aceitar porque talvez nunca tenha estado na presença de um médium revelando suas atividades anteriores, sim, de vidas passadas… Eu já estive. E ouvi, complacente, uma vez, uma função que, por sorte, não consta na lista de minha atual vida, que, apesar de sedutora, não é de muito boa fama, por isso resolvi aderir e estudar mais Freud e esquecer o que não temos prova alguma…
Mas agora, diante dessa ousada auto-intitulação, e com o testemunho deste blog que cultivo e rego há uns dez anos como se fosse um cacto, vou passar a me considerar escritora,
sem vergonha.
Kawer