Escrever é um fim, uma completude, por isso é árduo, exige muito estudo e talento. É necessário ter experiência também, muito ‘saber usar o tempo’ que é pouco, embora supostamente infinito, mas que deve caber e saber se dividir em porções de vinte e quatro horas com outras tantas coisas.
Querendo ou não, é a natureza que reina, rege e delimita o dia, a noite, a hora do descanso, da fome, do convívio social e de ganhar dinheiro (coisa que nem sempre uma obra escrita garante), portanto ela ocupa uma outra faixa do disco.
Então, atingir essa completude, ou melhor, concluir um livro, muitas vezes é quase impossível, pois além de tudo, somos imprevisivelmente mortais.
Ao nosso socorro, só mesmo muita insistência da criatividade. hum… coragem também. Eu acrescentaria até uma certa descompostura, visto que junto com as letras vai o(a) próprio(a) autor(a) e o risco dele(a) perder-se de vista enquanto vai se desnudando total e publicamente. Não importa o que escreva, pode ser um artigo, um romance, uma ficção ou fantasia. Na cadência de sua escrita ele(a) vai se revelando como é.
Agora, quanto à mim, admito que é uma coragem que nem todos têm, vítimas, como eu, de uma severa autocrítica. Por isso escolhem andar pelas beiradas, tateando o caminho até quem sabe um dia sentir-se seguro suficientemente para tirar a roupa.
Foi assim que, pelas bordas, tomei a boia mais próxima e resolvi fazer traduções. Óbvio que precisava ter o domínio de uma outra língua. O Inglês tenho, mas o italiano ainda é melhor para mim. E foi muito importante essa nova experiência. Dei um mergulho na coragem e no talento desses autores do além mar e aprendi muito.
O que aprendi é que a simplicidade é o grande segredo. Foi com ela que começaram seus livros e, com ela, os fecharam. Cientes e satisfeitos. Certos de poderem dizer:
“-aí está, completo!”
Certamente os caminhos nunca são iguais, também porque os pés e as mãos nunca são, Variam nas curvas tanto como as impressões digitais. E confesso que algumas vezes tive dificuldade de acompanhar o raciocínio, mas me propus a estar ali como aprendiz, não da língua, que dominava, mas para perceber a ‘escrita’, a forma que deram corpo às suas obras, Estava ali para traduzir e, ao mesmo tempo, me espelhar na coragem desses autores que conseguiram, bravamente, completar seus livros!
Pois…
“Todos têm talento.
O que é raro é a coragem de seguir o talento nos lugares escuros aonde ele leva.”
Erica Jong, escritora americana.