Expectativas infrutíferas

Dentro do tema de gestão de pessoas encontramos alguns elementos que estão sendo amplamente “perseguidos” como soluções emergentes na busca da excelência do trabalho e a consequente melhoria na qualidade do produto/serviço oferecido ao cliente, em prol da  subsistência das organizações que necessitam urgentemente de respostas concretas, e com lucro, para seus altos investimentos.

Boa parte do tempo que essas organizações gastam desde o seu nascimento é depreendido em estratégias para a sua criação, inserção, manutenção e superação dentro de um mercado instável. Uma incessante tarefa cujos resultados são quase lotéricos.

Numa análise primária, o processo parece simples. Parte-se de uma estruturação dos negócios prevendo as necessidades gerais e do mercado, objetivando o alcance de um público até a contratação de mão de obra, ferramentas e a construção de um ambiente propício para que estes se desenvolvam. A expectativa de uma, pelo menos, correta execução de suas tarefas é o mínimo que esses empresários querem receber em troca do alto investimento feito.

Entretanto, apesar do processo de criação de um negócio ter estagnado na sua estruturação, a sociedade mudou muito e, Infelizmente, as organizações não perceberam que a expectativa de atender ao mercado está ameaçada principalmente pelo fato de estarmos  diante de uma sociedade não tão previsível quanto em outros tempos. As necessidades contemporâneas são bem mais subjetivas do que no passado onde os produtos e serviços atendiam concretamente os anseios definidos e, por isso, eram dispostos e oferecidos calmamente no mercado sendo conhecidos e divulgados através dos comentários trocados quase não precisando de marketing (muito menos do “agressivo”). O que vemos hoje é uma sociedade inquieta e ansiosamente doentia em suas confusas aspirações. Procuram algo, alguém, elas mesmas, o tudo, o nada, o que querem? como satisfazer? As prateleiras vão ficando cada vez mais poluídas, abarrotadas de marcas, sabores, dos mais simples aos estranhos, embalagens coloridas imploram e  tentam acertar na marra o desejo. Os letreiros nas ruas vão se acendendo escandalosamente um ao lado do outro, em cima do outro, sobre o outro, tomando espaço, aumentando letras, confundindo as mente e os olhos, tirando a paz, escondendo a lua.

Acredito que poucos são os produtos/serviços que atingiram efetivamente a necessidade contemporânea, mas mesmo esses tiveram que alterar continuamente formas, fórmulas, invólucros, nomes, dispositivos, qualquer coisa, nem que seja a cor, para manter vivo o interesse dessa clientela transtornada.

Afortunados são os empresários visionários que investiram em ciências (computação, telefonia, informática e outras tantas áreas que ela influencia) e na inovação trazendo verdadeiramente enriquecimento à vida das pessoas, caso contrário seriam mais um entre tantos daqueles que disputam aos “socos” espaços nas ruas, shoppings, prateleiras e sites impregnando o mercado e, ainda assim, jogando na loteria pois caminham em zonas de risco com fortes chances de não atingir objetivo algum.

Diante desse mercado, diante de tamanho mal gosto e loucura, como e o que podemos esperar dos trabalhadores que ora estão nas ruas comprando, ora estão fazendo comprar, mas em estado igualmente confuso? Afinal, que produtos/serviços são esses com que operam? para que servem, em que são distintos ou necessários? Quem são seus empregadores? Inescrupulosos que visam apenas contribuir para o caos de uma sociedade perdida cuja visão de negócios é apenas monetária? Qual o avanço efetivo que eles procuram trazer em benefício das pessoas? E por que cargas d’água os teóricos e profissionais da área de gestão querem impingir ser possível “motivar” os trabalhadores em uma realidade como essa para que sejam mais produtivos e satisfeitos, insuflando-os de palestras, dinâmicas e outras “técnicas” de gestão completamente inúteis?

Criatividade, interesse pela sociedade e o seu bem estar, conhecimentos gerais e específicos numa  estreita amizade com a ciência são sementes que revertem essa mentalidade atual. A busca inconsequente das empresas com vistas apenas nos lucros só atola o mercado e não garante sucesso algum.  Por isso, aos gestores da área, aos eternos insatisfeitos com os trabalhadores, não adianta transformar o chicote em uma enxurrada de testes, avaliações de desempenho, clima, bônus, promessas e exigências pois elas são infrutíferas e vazias. Não adianta contratar consultorias, psicólogos e profissionais da área de recursos humanos (também eles chicoteados) se o objetivo final da organização não tem sentido, não convence, não amplia.

É necessário apagar um pouco o excesso de luzes para poder admirar a lua…