Até o fim

O fio que nos conecta ao fim passa antes pelo desvio da esperança.

“ATÉ O FIM” (Direção J.C. Chandor), estrelado por nada mais, nada menos que Robert Redford, foi um filme de 2013, que vi há um tempo e que gerou uns rabiscos e que, hoje, por mero acaso, encontrei em meus alfarrábios. O filme, do gênero “O Náufrago”, “127 horas” bate na tecla da angustiante temática da luta incessante pela sobrevivência, quando tudo parece perdido.

Entre as fatalidades, há em comum sucessivos estágios na ficção, assim como na vida. Separei nove (número bastante cabalístico, diga-se de passagem, mas não foi proposital) que seguem uma sequência: 1. Surge o imprevisto. O susto; 2. A tomada de decisão. A necessidade de “pôr ordem na casa”, Se adequar à situação; 3. As invenções criativas. Reinventar o que já existe e inventar o que nunca existiu; 4. O abatimento, o cansaço, o silêncio, a espera; 5. O desespero, o “isso é mesmo sério. E agora?”, a conscientização da gravidade; 6. A tênue linha entre o cansaço extremo, a escassez de recursos e a desistência de lutar; 7. A loucura, a embriaguez, a perda dos sentidos, a ‘permissividade’ para errar; 8. O esperado fim. Foi-se embora a caixa de socorros. Foi Pandora, foi com ela a esperança também. Fica só a entrega, a inércia; 9. Do último suspiro surge o imprevisto reverso. É que o filme termina com uma luz na superfície, antes imutável. Uma pequena luz de uma minúscula lanterna. Esgotados ou não, loucos ou não, entregues ou não à desistência, a esperança que parecia ter ido embora, afinal, esteve sempre lá. Pois enquanto houver um sopro, um lampejo de vida, uma centelha divina, ela não nos abandona, estará lá, pulsante e viva, porque cada um de nós, seres únicos, possui milhões de preciosas razões para restar.

A esperança só nos abandona quando deixamos de enxergá-la.

Quando tudo parece perdido,

ela está lá,

Até o fim.

 

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