A Perda da Identidade

No jardim do Éden ou mais provavelmente numa caverna primitiva, não se sabe exatamente onde ou quando, mas fato é que, a partir do momento em que os humanos passaram a experimentar o convívio social passaram a atribuir o direito à si próprio de criar uma identidade grupal, abrindo mão da sua, como indivíduo.

O motivo é justificável. Com mentes primitivas e selvagens, se cada um ao seu modo vivesse como lhe desse na telha seria muito difícil domar a espécie, acabaríamos nos matando, ou nos isolaríamos, tornando-nos presas fáceis para outros perigos. Decerto não sobreviveríamos…

Então, digamos que foi uma medida necessária na época essa união coletiva. tanto que, em seguida, virou fato consumado e, mais um passo adiante, se institucionalizou como hábito. Agora, já funciona em modo avião com piloto automático, selado no inconsciente coletivo num indivíduo com muitos cérebros e braços.

A população se desenvolveu, cresceu, formou grandes cidades, numerosos agrupamentos, nações, mas para salvaguardar o controle de natureza emocional que ainda teimava em sair das entranhas do próprio indivíduo, outros recursos foram criados para conter o perigo. Um deles, talvez o mais eficiente, chamaram de religião. Agora sim, parecem que conseguiram fechar o cerco. Corpo. mente e até o espírito! Tudo sob controle! Na pré-história ficou só o indivíduo.

Não sou psicóloga, não conheço muito da natureza humana, a sua origem, mas pelo que já vivi, li e refleti, reconheço que há algo que trazemos de perigoso nela, que nada se assemelha aos anjos e aos seres celestiais que dizem, supostamente, terem nos encaminhado e que um dia, quiçá, nos receberão de volta.

Uma criança nasce pura, é fato, mas teorias e estudos diversificados, alguns até controversos, afirmam que ela traz consigo traços de personalidade influenciados pela genética, posições astrológicas, evolução espiritual, carma, sensações intrauterinas, e por aí vai… logo, fica difícil saber se genuinamente estaríamos falando de um ser livre de problemas.

Tivemos alguns exemplos dentro da história que se destacaram como indivíduos. Foram atos isolados, projetos, personalidades geniais, que não se deixaram influenciar pela tendência geral e apostaram, lutaram e tiveram por isso, os resultados mais inacreditáveis que poderíamos suspeitar, tanto pelo positivo quanto pelo negativo, mas sempre pelos extremos, nunca pela linha do meio. Muitos morreram em hospícios, outros foram queimados, torturados ou abduzidos, obras extintas e outras escondidas, mas se hoje mencionamos nomes que marcaram a história com seus trabalhos, ou que pelos menos fizeram com que estes permanecessem, foi graças à liberdade de serem eles mesmos.

A diferença entre esses e a grande maioria, é que as suas identidades individuais não sucumbiram. Os seus trabalhos foram relevantes porque não foram trabalhos, foram consequências naturais de si mesmos.

É aí que está o mistério de uma vida entre a razão e a emoção, a autenticidade da obra.

1 comentário em “A Perda da Identidade”

  1. Muito Interessante ,faz se pensar e questionar,afinal quem realmente somos nos ?o que em nos e influencia externa? e ate que ponto conhecemos nos mesmos .gosto muitos dos artigos dessa talentosa escritora Katia Werneck

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