Geleca na cabeça

Conhecida também pelos nomes de ‘geleinha’, ‘amoeba’, ‘meleca’ e ‘slime'(cuja tradução é LODO), essa massa gelatinosa, maleável, pegajosa, de variadas cores (inclusive verde-eca) que vinha em potinhos coloridos e escorria pelas mãos das crianças da geração 80 foi o delírio da garotada, principalmente daquela que gostava de pregar peças nos outros, num misto de diversão, prazer e nojo.

Minha filha não pegou o auge da ‘melecagem‘. Quem pegou mesmo foi a galerinha X, seus ‘peXtinhas‘, no Brasil os ‘Xuxetes’ que absorviam as invenções pops americanas cheias de cores, formas e cheiros e suas psicodélicas cores.

Por que lembrar agora da geleca se nem eu, nem minha filha brincamos com ela? É simples, porque estou estudando ‘massivamente’ a massa encefálica para a matéria básica de neurociências e para facilitar a aprendizagem, comparei a sua capacidade elástica, consistência e deformações com a geleca…

Fato é que demoramos muito a focar na nossa massa cinzenta. Assim como a geleca foi descartada quando viram que não servia para soldar a sola do coturno dos soldados da II Grande Guerra, o nosso cérebro, mesmo ocupando 80% do encéfalo, durante muitos séculos na antiguidade não foi nada valorizado. Não se sabia para que servia. Mais ou menos como quando tirávamos a geleca do seu potinho original, ninguém sabia o que fazer com aquilo.

Mas, assim como um publicitário especializado e com tino comercial viu na geleca algo especial, Hipócrates finalmente percebeu que o cérebro não se tratava de um ‘algo’ qualquer e declarou entusiasta:

Os homens deveriam saber que é do cérebro, e de nenhum outro lugar, que vêm as alegrias, as delícias, o riso e as diversões, e tristezas, desânimos e lamentações. É por ele e de maneira especial que pensamos, vemos, ouvimos e distinguimos o feio do belo, o doce do desagradável… É este mesmo órgão que nos torna loucos ou delirantes e nos influencia com terror e medo. Tudo isso é produzido através do cérebro, quando não é saudável… Acho que as funções cerebrais são o mais poderoso que tem o homem” 

Hipócrates (séc. IV a.C), em “A Doença Sagrada”.

Quando os pextinhas brincavam com a geleca e a espremiam na palma da mão, estrangulando-a pelo meio, ela esparramava-se para os lados. Não é difícil acreditar que com nossa massa cinzenta e enrugada, o mesmo possa acontecer, ou seja, deformações.

Claro que eu sei, que é óbvio que a geleca é uma massa limitada à apenas um volume enquanto nosso cérebro é capaz de se reproduzir em células, neurônios, com todas suas organelas, moléculas e átomos, pedras fundamentais que fez até Einstein repensar em tudo. Fará mais sentido então associar os dois apenas pela ‘plasticidade’ que ambos possuem.

Além de neurônios, nosso cérebro contém inúmeros canais, como uma gigantesca rede fluvial tal como vemos nos rios e seus afluentes. Então, quando a pressão aumenta sobre alguma parte do nosso cérebro, estrangulando-o, com excesso de pensamentos e preocupações, cai uma enorme quantidade de chuva, alagando, alargando e criando novas células, reforçando ainda mais o domínio desse grande canal em relação aos outros afluentes.

Ou seja, para simplificar. Tudo que incide em nosso cérebro, desde pensamentos, sentimentos, emoções, tais como medos, incertezas, ira, etc. provoca o ‘estrangulamento’ da nossa massa cinzenta numa determinada região e ao pressioná-la em demasia, este ponto vai se expandindo para outras áreas que deveriam estar livres para que a regeneração natural e o bem estar do indivíduo retornasse equilibrando a influência negativa. Então, o que era um problema a ser solucionado, vira com o tempo uma deformação patológica.

Certamente falo como aquela criança arriscando palpites para entender o nascimento dos bebês e dos grandes mistérios da vida, mas… andei ‘navegando’ e alguma coisa encontrei esse respeito que faz algum sentido…

Então, o que eu acho, é que temos que diversificar, brinquemos com a geleca em nosso cérebro, não a maltratemos. Ansioso? porque não dar uma caminhada ao ar livre ou tomar um banho de ervas aromáticas. Medo? tem sempre uma comédia pastelão para dar boas risadas e afastar isso. Deprimido? vá ao encontro de quem está precisando mais de ti do que você dele e, para tudo, finalize meditando, de preferência na natureza.

Enfim, não estrangule a sua geleca!

Conselho de quem pagou para ver e está aprendendo com isso

Kawer

1 comentário em “Geleca na cabeça”

Deixe um comentário para Monica Cancelar resposta